A mulher e a cobra




Nasceu
no submundo torpe da consciência.
Esgueirou-se entre uma fresta
apodrecida da alma
e escondeu-se nas sombras
deformadas das emoções.
Sibilou paixões descontroladas
com hálito de malícia.
Enrodilhou-se, ardilosa,
na sua própria mentira.
Astuciosa e sagaz
destilou seu veneno entre beijos ardentes.
Cautelosa, silenciou seus segredos
espreitando os desejos.

Mulher-cobra
confundindo os sentimentos
na volúpia do seu brilho,
despindo a aparência a cada sedução.

Cobra-Mulher
rastejando pelo rescaldo do prazer
e disfarçando-se nos entulhos da falsidade.

Uma - cumprindo o seu destino ofídico.
Outra - afirmando a alomorfia humana.

MULHER - chora o infortúnio de tornar-se cobra.

COBRA - canta a virtude de não ser mulher.


                                                  Alma de Almeida