Criancice 
 

 

Moleque travesso que brinca com piche
grudado aos cabelos.
Um dia vais tê-los de branco todinho.
E o tempo, inimigo, te põe de castigo num canto, sozinho. 

Cuidado, menino. A vida é uma escola.
Esquece da bola, convém estudar.
Aprende a tabuada, que a conta enganada,
com nota zerada, te pode magoar. 

Criança tinhosa que corre a calçada
pulando a enxurrada sem rumo e sem dó.
Se um dia tropeças na pedra às avessas
te escapam as peças do teu dominó. 

Pirralho manhoso. que vem com jeitinho
pedindo um colinho p'ra se aconchegar...
De corpo ferido, sangrando, sofrido...
o pranto sentido quem vai te enxugar?

Garoto levado que não tem cuidado.
Não sejas malvado. Que queres, enfim?
Desmancha o beicinho. Não faças charminho.
Me poupe o carinho que roubas de mim.
 
Moleque safado, te cuida, danado.
Não venhas fraudado que já não tapeias.
Te escondo o brinquedo. Descubro o segredo,
e acabo o folguedo das bolas de meias. 

Malandro perfeito, te pego de jeito,
te cobro o respeito, te faço crescer.
Se o jogo te agrada, não cante a jogada com carta marcada,
não custa perder.

Se fazes pirraça  e quebras vidraça
não venhas, sem graça, pedindo perdão.
Te chasco na hora.
Te mando ir embora.  Te ponho p'ra fora do meu coração.



                                                                                                                           Alma de Almeida