Morada da Alma


 

A minha casa já não tem mais jeito...
Tão velha está por dentro, quanto fora.
A cada dia surge algum defeito.
É um tal de “cai-não-cai” a toda a hora.

O teto esbranquiçou. O portão, feito
em pedaços, range, balança e chora
quando o frio da saudade entra no peito,
e a memória, cansada, vai embora.

Na parede, o reboco está soltando.
E o tempo, nas janelas, embaçando
o sonho azul que a infância rabiscou.

De tudo o que já foi, pouco restou.
Mas, mesmo assim, a minha casa é bela
porque é cheia de amor e eu moro nela.

 

                                                         Alma de Almeida