Quarto minguante


Sexto andar da ilusão...

Um hotel...
E um quarto de papel,
amassado no centro da cidade.

Um corpo abandonado na cama de casal...
Um lençol desbotado de soluços...
Um cigarro queimando a sua solidão...

Uma janela aberta
deixando escapar a fumaça dos suspiros...

O olhar indefinido apalpando a penumbra
a procura de um resto de sono...

Uma promessa não cumprida...
Uma esperança adiada...

Um telefone mudo ferindo o silêncio das horas
no desengano dos sonhos.

Uma caricia que se perdeu no ar...
Um beijo que morreu na boca...
Uma dádiva que se recolheu para dormir

Na rua, o passo incerto do desengano
escorregando na noite.
Ao longe, a sombra de um encontro não consumado
diluindo-se na bruma do tempo.

A lua registrou no céu a viuvez da amante
e chamou a manhã para esconder seus desejos.

O sol veio acordar a saudade
que se vestiu de mulher
para encontrar-se com a realidade.


                                                                    Alma de Almeida