Uirapuru

 

Dizem que o Uirapuru, quando desata.
A voz - Orfeu do seringal tranqüilo,
O passaredo rápido, a seguí-lo
Em derredor agrupa-se na mata.

Quando o canto, veloz, muda em cascata
Tudo se queda, comovido, a ouvi-lo:
O mais nobre Sabiá susta a sonata,
O Canário menor cessa o pipilo.

Eu próprio sei quanto este canto é suave.
O que, porém, me faz cismar bem fundo
Não é, por si, o alto poder dessa ave:

O que mais no fenômeno me espanta,
É ainda existir um pássaro no mundo
Que se fique a escutar quando outro canta!

 

                                                                 Humberto de Campos