Soneto

 

Antes da minha trôpega velhice
Por onde a força do meu pulso andasse
Não sei de algema que se não quebrasse...
Não sei de pedra que se não partisse.

Tinha-me, aos pés, o mar por que eu ouvisse.
E temia-me o vento que soprasse.
O próprio monte que eu subir tentasse
Baixava o dorso para que eu subisse.

Em mim só resta a neve dos cabelos.
Fora de mim a morte com seu luto
Cheia de espectros e de pesadelos.

A árvore mesma, cujo amor me assombra
Suspende a rama e me esconde o fruto
Derruba as folhas e me nega a sombra.



                                                                             Aristeu Seixas