Oração do gaúcho
Em nome do Pai, do Filho e do
Espírito Santo,
e com licença, Patrão Celestial.
Vou chegando, enquanto cevo o
amargo de minhas confidências, porque,
ao romper da madrugada e ao descambar do sol, preciso camperear
por outras invernadas e repontar do céu a força e a coragem para o
entrevero do dia que passa.
Eu bem sei que qualquer guasca, bem
pilchado, de faca, rebenque e esporas,
não se afirma nos arreios da vida se não se estriba na proteção do
céu.
Ouve, Patrão Celeste, a oração que
te faço ao romper da madrugada e ao descambar do sol.
Tomara que todo mundo seja como
irmão.
Ajuda-me a perdoar as afrontas e
não fazer aos outros o que não quero para mim.
Perdoa-me Senhor, porque rengueando
pela canhadas da fraqueza humana,
de quando em vez, quase sem querer, eu me solto, porteira a
fora...
Êta potrilho chucro, renegado e
caborteiro!
Mas, eu te garanto, meu Senhor,
quero ser bom e direito.
Ajuda-me, Virgem Maria, primeira
prenda do céu.
Socorre-me, São Pedro, capataz da
estância gaúcha.
P’ra fim de conversa, vou te dizer,
meu Deus, mas somente a ti,
que Tua vontade leve a minha de cabresto.
P’ra todo o sempre e até a
querência do céu.
Amem!
Don Luis Felipe de Nadal
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