Confissão silenciosa

 

Se o verbo mata, às vezes, a ilusão
E a ilusão é a ventura dos mortais.
Assim, mais vale a nítida expressão
Das caladas mensagens visuais.

Mais que a palavra vale o gesto. A mão
Numa outra mão, depois do olhar, diz mais
Que a mais gentil e linda confissão
No mais lindo e gentil dos madrigais.

A que eu tiver na dor ou na ventura
Não pedirei nem confissão nem jura
Do seu sincero ou simulado amor.

Nem me há de ouvir dizer se bem lhe quero.
Porque, calado, sei que sou sincero.
Porque, falando, posso ser traidor!


 

                                                                         Francisco Ricardo