Acrobata da Dor

 

Gargalha, ri, num riso de tormenta,   
Como um palhaço, que desengonçado,   
Nervoso, ri, num riso absurdo, inflado   
De uma ironia e de uma dor violenta.  

Da gargalhada atroz, sanguinolenta,   
Agita os guizos, e convulsionado   
Salta, garroche, salta clown, varado   
Pelo estertor dessa agonia lenta...  

Pedem-te bis e um bis não se despreza!    
Vamos! retesa os músculos, retesa   
Nessas macabras piruetas d'aço...   

E embora caias sobre o chão, fremente,   
Afogado em teu sangue estuoso e quente,   
Ri! Coração, tristíssimo palhaço.


                                                         João da Cruz e Souza