Legado de honra

 

Escuta, velho, onde estejas, a prece que te levanto.
Dos dias tristes lembrando, parece que me iluminas,
E falas, calmo, comigo, e, como sempre, me ensinas,
Pois que me abrigas os passos sob o calor do teu manto.

Acorrentado que estavas àquele leito de morte
Por tênues tubos de plástico, inoculando-te a vida
De todas as que me deste, a lição mais dolorida
Rasgado de sofrimento, tu não maldisseste a sorte.

Erguendo as mãos às alturas, em súplica de esperança
Ao Rei de todas as Luzes, Sublime Senhor do Mundo...
Implorei que te curasses... Mas houve silêncio profundo.
"Onde Te ocultas, ó Deus, que a minha voz não Te alcança?"

As horas de angústia e medo brotavam em meu caminho
E o teu padecer crescia sem tê-lo por merecido
Às legiões dos abismos invoquei, então, enfurecido
Pra te levarem depressa. Mas, nada, fiquei sozinho.

E o tempo assim foi passando... mudando meu sentimento
Vencendo minha vontade, abrindo meu coração,
Até que, da realidade, mostrou-me a pura visão
Só existe ABISMO ou ALTURA nas tramas do pensamento.

E o Absoluto aos seus filhos olhando, compadecido,
Vencida a missão da dor, de libertar a verdade,
Levou-te, meu velho, em seus braços. Me espera na eternidade.
Deixaste a FÉ como herança, por prêmio de teres vencido.

 

                                                             Eugênio de Campos, Júnior                                                                                                
                                                              Cap. Campos Júnior