Imortalidade

 

Alma que de meu corpo te apartaste,
Corpo que de minh'alma te partiste,
E que dest'arte em dois me repartiste,
E numa só desdita a ambos juntaste:

Qual vida é igual à morte que inventaste?
Qual morte mais do que tal vida é triste?
Que humano ser tão desumano existe
Que haja sua igualdade em tal contraste?

Ante a razão porque a razão cativa
No próprio cativeiro acha conforto,
E às vezes se abandona, outras se esquiva,

Chego a quedar-me ante mim mesmo absorto,
Alma sem corpo, que não sei se é viva,
Corpo sem alma, que não sei se é morto.

 

                                               Guilherme de Andrade e Almeida