Sinto vergonha de mim
Sinto vergonha de mim
por ter sido educador de
parte desse povo,
por ter batalhado sempre
pela justiça,
por compactuar com a
honestidade,
por primar pela verdade e
por ver este povo já
chamado varonil enveredar pelo caminho da desonra.
Sinto vergonha de mim
por ter feito parte de
uma era que lutou pela democracia,
pela liberdade de ser e
ter que entregar aos meus filhos,
simples e abominavelmente,
a derrota das virtudes
pelos vícios,
a ausência da sensatez o
julgamento da verdade,
a negligencia com a
família, célula-mater da sociedade,
a demasiada preocupação
com o "eu" feliz a qualquer custo,
buscando a tal
"felicidade" em caminhos eivados de desrespeito para com o seu
próximo.
Tenho vergonha de mim
pela passividade em
ouvir, sem despejar meu verbo,
a tantas desculpas
ditadas pelo orgulho e vaidade,
a tanta falta de
humildade para reconhecer um erro cometido,
a tantos "floreios" para
justificar atos criminosos,
a tanta relutância em
esquecer a antiga posição de sempre "contestar",
voltar atrás e mudar o
futuro.
Tenho vergonha de mim
pois faço parte de um
povo que não reconheço,
enveredando por caminhos
que não quero percorrer...
Tenho vergonha da minha
impotência,
da minha falta de garra,
das minhas desilusões e
do meu cansaço.
Não tenho para onde ir pois amo
este meu chão,
vibro ao ouvir meu Hino
e jamais usei a minha
Bandeira para enxugar o meu suor
ou enrolar meu corpo na
pecaminosa manifestação de nacionalidade.
Ao lado da vergonha de mim, tenho
tanta pena de ti, povo brasileiro!
De tanto ver
triunfar as nulidades,
de tanto ver prosperar a
desonra,
de tanto ver crescer a
injustiça,
de tanto ver
agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus,
o homem chega a desanimar
da virtude,
a rir-se da honra,
a
ter vergonha de ser honesto
Rui Barbosa de Oliveira
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