Rumo ao norte
Só e triste seguia o seu caminho
Amparado ao bordão, pobre velhinho;
Revoltado com a sorte blasfemava
E curvado cansado caminhava
Cada vez mais difícil, sem parada
Chegar ao fim de tão longa jornada
Depois de muito andar entre os espinhos
Sem companheiro algum e sem carinhos
Viu-se só ante certa encruzilhada
Sem ter um conselheiro, sem mais nada
Que o guiasse e lhe desse orientação
Alegrando o seu pobre coração.
Desanimado sentou-se e chorou
Lembrando-se do filho que amou
E que moço seguiu para o Além
Deixando-o tão só, sem mais ninguém
Que o amparasse e lhe desse coragem
Para enfrentar da vida a voragem.
Chorou, extravazando a grande dor.
Sentiu-se pobre, fraco, sem valor
Impossibilitado de andar
De novas asperezas encontrar
E, pela vez primeira, foi a Deus
Que implorou refrigério aos males seus.
Então – oh! maravilha - viu ao lado
De si, risonho e lindo, o filho amado.
Atônito sentiu grande alegria
Tão grande que seu coração enchia
E viu tomar-lhe o braço seu rapaz
Transmitindo-lhe à alma grande paz
Ouviu-lhe a voz cantante e harmoniosa
Que lhe deu sendação deliciosa
A dizer-lhe – “Meu pai, não desamine
Peço a Deus que o caminho lhe ilumine
Amparado por mim, pelo seu filho,
Saberá escolher o melhor trilho.
Terá, então, coragem pra vencer
Empecilho qualquer que aparecer.
Não mais lhe faltará ânimo forte
Para enfrentar os azares da sorte
E, finalmente, no Reino da Luz
Deparará com o meigo Jesus”
Estático, surpreso, o velhinho
Desamparado viu-se, e sozinho
De novo se encontrou, sem o amigo
Que tanta energia traz consigo.
Sentiu, porém, em si disposição
Para enfrentar a nova situação
Tomou do seu bordão, com braço forte
E encaminhou-se, rijo, RUMO AO NORTE.
Sarah de Araujo Martins Bonilha
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