A flor de Maracujá

(Interpretação de Doizinho Quental)

 

Conversando com um sertanejo,

Perto de um pé de maracujá

Eu perguntei, diga-me, caro sertanejo,

Por que razão nasce roxa a flor do maracujá?

 

Ah! Pois então eu lhe conto

A história que eu ouvi contá

A razão pruque nasce roxa

A flor do maracujá.

 

Maracujá já foi branco

Eu posso inté lhe ajurá

Mais branco do que a claridade

Mais branco do que o luá.

 

Quando as flô brotava nele

Lá pros confins do sertão

Maracujá parecia

Um nim de algodão.

 

Mais aí há muito tempo

Num mês que inté nem me lembro

Se foi maio se foi junho

Se foi janeiro ou dezembro.

 

Nosso Sinhô Jesus Cristo

Foi condenado a morrê

Numa cruz crucificado

Longe daqui como quê.

 

Pregaro Cristo a martelo

E ao ver tamanha crueza

A Natureza inteirinha

Pôi-se a chorar de tristeza.

 

Chorava os campo

As fôia a ribeira

Sabiá também chorava

Nos gaio de laranjeira.

 

E havia perto da cruz

Bem pertim de Nosso Sinhô.

Um pé de maracujá

Carregadim de flô.

 

E o sangue de Jesus Cristo

Sangue pisado de dô

Nos pés de maracujá

Tingia tadas as flô

 

Eis aí, seu moço

A históra que eu vi contá

A razão pruquê nasce roxa

A flô de maracujá.

 

                                             Catulo da Paixão Cearense